Monday, July 31, 2006

Seu dia está chegando, quem sabe um sonho se realize!!!

Não sei quando comecei a te escrever esta carta. Talvez, tenha sido no momento, em que descobri que eras apenas humano. Naquele dia, decidi retirar dos teus ombros o fardo de herói. Lembro-me do meu desencanto por não corresponderes àquela imagem que eu via estampada nos anúncios de TV, quando se aproximava o dia de te comercializarem, emprestando-te signos que eu não encontrava em ti. Na minha ótica, ainda infantil, ficava a pensar se existia aquele modelo de pai, maior até que Deus, veiculado insistentemente pela mídia. Olhava-te em tuas fragilidades e faltas renitentes, comparando-te com aquele pai de olhos azuis a rolar pelo tapete da sala com os filhos. Esta era a fotografia de pai que me era mais forte, em virtude dos apelos da propaganda. Em minha ingenuidade, ficava a me perguntar, porque meu pai não era assim. Reportando-me à educação que tiveste, soa-me agora mais fácil compreender a tua inabilidade para demonstrar afetividade. Vinhas de uma família numerosa e pobre. Meu avô era um homem rude e seco, no que se referia aos filhos. Imbuído do sustento da família, sobrava-lhe pouco tempo para demonstrações de carinho. Estranhamente, agia de outra forma com os netos. Vem-me à mente, quando ele nos visitava e me punha no colo, fazendo-me mimos à sua maneira. Naqueles momentos, o vovó Joaquim tornava-se irreconhecível. Acho que buscava resgatar com os netos a ternura que não conhecera também, enquanto pai. Um exercício de paternidade que tentava recuperar, já que os tempos eram menos difíceis. Quando abro meu álbum de memórias, quase nada recordo da minha infância. É como se ela tivesse sido apagada ou nunca existido. As lembranças mais consistentes apontam para a minha adolescência. Talvez, por ter sido a época, em que me vi teu filho de verdade. A caricatura do pai bonachão adquiria outra consistência e significado. O modelo de pai que eu tanto cultuara em minha imaginação rompia paradigmas. Foi preciso que a morte quase nos rondasse, para que eu enfim te compreendesse e pudesse te olhar sem falsas expectativas ou cobranças. Fazia quase um ano que eu decidira não mais te falar. Cansara das discussões e da tua pouca decisão em mudar os rumos da tua vida. A minha determinação em te dizer, o que eu pensava, sempre te assustava. Devias pensar, como um fedelho como eu, ousava te mostrar verdades que tanto negavas. O acidente automobilístico realizou duplo milagre: poupou-me a vida e modificou minha forma pouco indulgente de te ver. Recordo-me agora da minha aflição, quando me deparei com a possibilidade de perder a vida. Estando tão distante de ti, tanto fisicamente, quanto espiritualmente, não podia ir ao teu encontro. Saí do hospital e surgiu o momento de nos reencontrarmos. Só me vinha a mente como te dizer... Em meio ao silêncio que transcorria, emudeci com a tua chegada. Apenas olhei-te e com o orgulho restabelecido também, não fiz qualquer gesto para me aproximar. Tu, ignorando meu comportamento, pegaste-me pelas mãos e me conduziste a um lugar reservado. Não sei narrar, o que se passou naqueles instantes. Lembro-me apenas do calor do teu abraço, da tua voz pedindo-me perdão, por não seres o pai que eu tanto desejava. E quando te perguntei, se tu ainda me amavas, disseste-me algo que jamais esqueci: “Amo-te, desde quando nem sabias da cor dos meus olhos. Amo-te, desde quando eu sequer sabia, se eras um menino ou menina. Amo-te, desde quando sequer existias e apenas era um sonho do meu desejo de pai”. Quase 20 anos se passaram desde que fui morar com você. Hoje, tanto já galgamos em nossa relação. Compreendo que sempre foste amparo para os meus olhos. Mesmo no silêncio dos lábios, acompanhavas-me. Talvez, entenda-te tanto, porque me veja em ti. O silêncio do sentir herdei de ti. Emudecer diante da dor ou da extrema alegria são características nossas. Alguns chamam de indiferença e orgulho. Nós sabemos que não. É apenas o nosso jeito de não incomodarmos o mundo diante da pequenez do que somos. Amar-te sem aquela armadura de pai herói me é muito mais fácil! Sabemos que estamos a todo momento nos reconstruindo, porque nos reconhecemos inacabados. Rasgamos os modelos, porque na dinâmica da emoção e da humanidade, os estereótipos apenas atravancam o processo de conhecimento e doação. Não sei, se um dia te entregarei esta carta. Hoje, apenas consegui te dizer: Feliz Dia dos Pais. É papai...continuo teu menino estranho!!!

Pai!!!

Um dia ainda quero te encontrar na esquina da desilusão, para dizer que não preciso mais seguir os teus passos, que não preciso mais dos teus abraços, do seu dinheiro e do teu olhar de desaprovação. Um dia vou te encontrar tão grande que vou me esquecer o quanto sou pequeno e que não sei nada da vida. Um dia não vou mais ter medo de escuro, de injeção e de ser feliz. Eu vou acordar de bom humor de manhã cedo. Um dia vou te convencer a caminhar algumas horas em silêncio comigo, não porque você esta gordo e sedentário, mas porque às vezes você me faz falta. Um dia eu ainda vou fazer você se arrepender de dizer que quando você morrer eu vou morrer de saudades. Porque eu vou mesmo. Um dia eu vou deixar de ser a culpa do seu passado mal resolvido e quem sabe ai, me mudo para longe, que tantas vezes eu te ouvi amaldiçoar qualquer lugar que eu fosse. Um dia eu não vou mais correr para os teus braços porque o mundo anda pesado demais, porque a vida vai me ensinar a chorar sozinho no escuro do meu quarto e eu vou levantar mais forte depois. Um dia eu vou construir meu futuro sem esperar que você esteja na platéia. Um dia eu vou deixar de ser o menino que eu sempre sou quando você me abraça. Um dia eu vou me odiar menos por te amar tanto. Um dia..

Thursday, July 27, 2006

Psicografia de bebado!!! (bebado não mente heim...rs

Quando a encontrei, ela já estava com os olhos fundos e pequenos, mergulhados na melancolia do som bem tocado e da cerveja bem gelada. Escrevia freneticamente num pedaço de guardanapo todas as suas angústias esperando do papel os ouvidos atenciosos, que nessa hora, estavam ocupados demais com aquele som. Sentei por perto, silenciosamente, tentando compreender o que se passava. Com os movimentos vagarosamente alcoolizados, ela pousou o guardanapo todo rabiscado na minha frente e me pediu para que lesse. Li atentamente aquele aglomerado de palavras tentando compreender a psicografia do medo do amor. Porque era mais fácil que o amor fosse espírito do que realidade. O que é etéreo não machuca, só assusta. E aquela cena me lembrou muito um trecho de “O pequeno príncipe” em que, ao encontrar um bêbado ele faz a seguinte pergunta “Porque você bebe?”, e o bêbado responde “Bebo para esquecer”. Intrigado o principezinho retruca “esquecer o quê?” e o bêbado responde “esquecer a vergonha que eu tenho de beber”. E assim, exatamente dessa forma, ela me apresentava o amor: como se ele fosse para nunca ser vivido, afim de nós nos poupássemos da nossa autêntica fragilidade humana. Ai ela me perguntou sobre aquilo que eu compreendia da subjetividade da sua psicografia maluca. E eu, com a sinceridade que somente o álcool permite, respondi que muito pouco. Mas na verdade eu compreendia muito, e, de certa forma pactuava a sua vontade de transformar o amor em algo tão distante da realidade, que a paixão, quando acabasse, fosse como se nunca tivesse existido. E seria então tudo mágico, se não houvesse o nosso desespero humano de esperar a mensagem do celular, o convite para o aniversário que não veio, o sorriso que iluminava os segundos perdidos do nosso dia. Seria mágico se o medo não fizesse a gente martelar na testa a palavra “amigo(a)”, para conter aquela vontade incontida se ser amor. E a minha amiga estava ali, incontida e frágil em cima de um papel rabiscado, tentando enfim traçar a receita mágica da paixão indolor. Receita que eu também não sei. Mas se eu pudesse te dizer, diria que o único amor que dói é aquele que a agente não viveu. Porque aquele que a gente viveu mas não deu certo, o tempo cura.

Sunday, July 09, 2006

Eapic 08/07

Era um cenário de Tim Burton. Tinha um monte de rostos bonitos sorrindo no meio de um monte de lama, e junto com eles, umas poesias do Vinicius e do Drummond e uma confusão de sentimentos. Senti tudo olhando para aquele lugar...Tinha um coração partido flutuando no meio da lama. E tocava incessantemente...

Luz, camêra...ACÂO!?

Era a angústia da espera que o dominava. O beijo vinha no canto da boca, mas não acontecia. Dependia de todos os “se” dela. Se sim, se não, porque raios ela não se deixava? E ele, preso a todas as suas insólitas convicções, nada mais entendia. Ainda eram amigos? Que amizade era essa que se multiplicava nas conversas do msn? Tantos minutos de distância e tantas palavras de aconchego. Foi assim que ele aprendeu a querer teus abraços, que vinham meio sedutores, meio fraternais, por ora, apertados demais. Apertados que chegavam a sufocar os sonhos, que já falavam de um desejo que não se podia mais conter. Mas e o beijo? O beijo que selava a confusão dessa amizade, este nunca chegava a tempo.Não precisava de roteiro. A sua história era perfeita. O set estava pronto: a luz baixa, o silêncio dos atores, o clímax de deixá-la na porta de casa, a mensagem tão clara dos corpos, mas e o beijo? Não era assim que se começava o seu romance? Onde estava o beijo? O diretor estava a um passo de baixar a claquete e interromper a cena...Porém, a graça da sua obra de arte estava em interpretar as entrelinhas dessa amizade, embora os olhos já não enganassem mais ninguém. E quando a boca secava e o beijo não acontecia, era mais um dia angustiado, desesperado, pois os sinais todos denunciavam que a amizade da atriz já vinha com jeito de amor. Ele foi embora para casa, pensando se deveria ter ficado. Ela se despediu pensando se devia ter ido. Mas o beijo foi só de despedida e nada mais. O filme parecia programado, contudo o melhor estava ainda para acontecer. E quando a vida sai do roteiro, deixa o minuto virar arte, o corpo virar parte, a amizade derreter. Deixa o amor acontecer, enquanto ele pode ser cuidado, cultivado, sem mistério de se perder. Porque o que se perdia na verdade era a vestimenta de amigos, que não combinava com os olhares já trocados. O filme estava encerrado. Faltava o beijo acontecer.