Tuesday, April 11, 2006

Carta Que Nunca Será Lida!!! (J®$)

Tenho tentado controlar a ânsia de te escrever. Parece que tudo que eu falar, soará como repetição, frases enfadonhas, de quem sempre está a esperar! Nem sempre me contenho...sou acometido por este formigamento nas mãos. Talvez escreva para enxergar o meu revés, descobrindo as senhas que não revelo a mim mesmo. É que a minha palavra é atrevida e até cruel. Tenho mesmo a alma aberta e o peito em fratura exposta. Ouvia Cassia e lembrei-me de ti, de mim...não sei se devo falar em nós. Não sei se nós existimos, ou se te fiz minha melhor fantasia. Apenas, continuo a dormir, para te encontrar. Sou afeito aos sonhos e tenho os olhos guiados por luas que me inquietam o coração. Tomam-me em momentos quaisquer. Não sabem das determinações do tempo e do calendário que rege dias com compromissos, tarefas e atividades. Desorientam-me em suspiros matutinos, quando o sol já abraça o mundo. Parecem não perceber que já não tens vindo e que ainda não voltaste. Bem que elas tentam se disfarçar: dias, minguante, cheia; outros, quarto crescente, lua nova...talvez queiram te surpreender, imaginando-te à espreita. Luas e amantes não devem ser levados à sério. Ou devem? Continuo sem saber o que fazer, quando me ocupas o pensar. Isto me lembra contrações de parto. Amiúdes, em intervalos cada vez menores e renitentes. Percebo-me com a pulsação alterada, uma taquicardia inusitada...é a tal química do amor a dizer-se presente, como querem os cientistas de plantão. Diria apenas, amor...àquele que cantava Vinícius, Drummond, Neruda e a minha bela Flor Espanca. Minhas mãos, a despeito do tempo, ainda guardam carícias...já havia escutado que a ausência é atrevida. Nunca gostei dos ditados. Em sua maioria, limitam, aprisionam ações, distraindo a capacidade de pensar. Ando a caminhar pelas dúvidas. Mas voltando a máxima, acima...Tolices, de quem nunca se deixou tocar pela possibilidade de amar. Nem desconfiam do desejo que aflora, pelo que não existiu de fato. Desconhecem o ardor dos lábios, a quererem provar de um beijo prometido ou de abraços estendidos em inanição de outros braços. Será que o amor sempre precisa de tato, visão, cheiro e paladar? Alheamentos, de quem só sabe sentir, embora nem sempre compreenda... Sinto saudades e continuo sem decidir, o que fazer com a intimidade de estares em mim, ainda que sejas este gosto do desconhecido, ausente de alguns dos meus sentidos formais.

Resposta a um perfil!!! (J®$)

Sim, sei das noites que se deitam em teus olhos e dos teus ombros que já fraquejam. Ah, como sei... Esqueceste, por acaso do tempo, que das tuas pegadas necessita? Sim, é preciso que deixes sinais, porque outros passos te sucederão... Sim, sei do teu enfado, dos teus desenganos, dos teus fracassos e da impotência que te ferem a alma. Ah, como sei... Lembro-te que há o reverso disso tudo: conquistas, acertos, sorrisos, prazer, carícias, beijo na boca...e isso tudo também te convida. Sim, sei da dor, do silêncio incontido, quando era a palavra a única salvação. Sei do pulsar do coração comprimido, escondendo-te para não incomodar e dos olhares desviados para não ter que te encarar. Ah, como sei... Enquanto te abandonas entre brumas, o sol não desiste de ti. Há música no ar, a despeito da tua aparente indiferença e ainda que não observes, existem estrelas a te guiarem, perfumando-te de vida. Sim, sei do desconforto, das lágrimas e da ausência que não assimilas. Sei da agonia que escorre em tuas mãos, quando te rabiscas em poesia para sentir teu coração bater. Ah, como sei... Devo dizer-te que ainda assim podes te redesenhar. Há traços que te sorriem em cores que não ousaste provar. E entre retas e curvas, há sempre um caminho a ser trilhado.

Carta Sem Resposta!!! (J®$)

Hoje, uma saudade imensa me veio...aquela que tem o teu nome e que me faz revirar palavras, rever tuas letras e buscar-te em meio ao que o tempo chama de passado.
Ao meu redor, tudo permanece distante e estranho, como se algo ou eu próprio estivesse no lugar errado. Os objetos, os móveis, a casa enfim, não me reconhecem. Eu tampouco a eles. Olho cada lugar, como se buscasse algum vestígio de mim...algo que denuncie qualquer cumplicidade e que me tire, ainda que por instantes, esta sensação de inadequação que me é tão permanente, à medida que a tua ausência solidifica-se.
Volto às nuanças de cada dia vivido e ao circundante azul, que parecia movimentar-se apenas porque nós dois existíamos. Mesmo que não ao alcance das mãos, podíamos nos tocar com uma intimidade jamais percebida ou sentida. Também por isto, a inquietude, a estranheza e o assombro cotidiano, porque era em nossas dessemelhanças que tanto nos parecíamos. Contigo não havia qualquer embaraço, ainda que fossem inevitáveis, o frio no estômago, o rubor repentino, quando o encontro se dava. E levavas-me a lugares que nunca fui, ainda que meus pés não se deslocassem do chão.
E eu, que já havia me desacostumado dos sonhos e dos olhares perdidos a buscar saudades, flagrei-me te fazendo o meu caminho de ida e volta pela vida. De repente, surpreendias o meu passo e sabias de todos os meus destinos...e eu, ignorante de tudo, justificava cada fato como coincidência. Acostumei-me a visita do acaso que sempre arranjava uma forma de te aproximar mais ainda de mim. Sequer notei, quando a hora do meu almoço, foi se transformando em tua hora...sequer percebi, quando todo o meu tempo passou a ser teu. Já não havia como negar que meus olhos queriam se ver refletidos no espelho dos teus.
Permanece em meu rosto, o mesmo encanto, o olhar cintilante de eterna descoberta, acariciando o despertar de todos os alvoreceres, quando acordas em minhas saudades.
Tolice dizer-te que o meu olhar já não te aguarda...cada vez que o telefone toca, é a tua voz que ainda desejo ouvir. Não consigo disfarçar do peito, a tua existência em mim. Não aprendi a dissimular-te da minha memória, quando a palavra felicidade procura o meu olhar. E sorrir era tão mais fácil contigo... a alegria sempre estava ao alcance dos meus lábios, porque me sabia pronunciado em teu coração. Lembro-me que me dizias que o tudo de ti combinava com o tudo de mim. Tu falavas de sentimentos que a minha alma tanto reconhecia. Daí, a afinidade e a sensação inequívoca de que havíamos inventado um novo idioma, uma única linguagem de afetos e ternuras. Era em ti, que eu encontrava minha maior e melhor verdade, sem que nenhum espelho precisasse me refletir. Era em teus olhos que o meu dia acordava. Era em mim que a tua vida encontrava todas as cores, que aprendeste a distinguir através do meu olhar.
Resta-me agora todas as páginas que não pudeste escrever, esvoaçando em letras de saudades. Resta-me esse amor em vigília. Restam-me as mãos repletas de incansáveis esperas, enquanto teu caminho reconhece-me como teu destino possível.