Cheguei a essa cidade afoito quando já havia me esquecido dos diversos tons de cinza que descolorem o céu. Desacostumado, logo que escuto os teus primeiros sons, chego a achar bonita a sinfonia de buzinas que anuncia o transito caótico.
São Paulo me lança o seu primeiro sorriso ríspido que por ora eu não sei se encoraja ou intimida.
Pego o primeiro congestionamento, onde o calor abafado provoca pesados suspiros. Estão todos ali com o saco na lua e eu sou mais um dentre os olhares descontentes dos outros mal acomodados passageiros.
Desço e o sinal vermelho me deixa desfilar a vontade sobre a faixa de pedestres.
"Ao meu lado, seguindo pelo mesmo trajeto, tropeça uma moça."
-Indignada, ela me retrata a cena que eu havia acabado de assistir: tão logo o sinal abriu, o motorista lançou-lhe o carro para que ela apressasse o passo.
Enquanto ela bufa o descontentamento do seu final do dia, eu retribuo o sorriso ríspido que recebi e lhe digo “Bem vinda a São Paulo”.
Com um genuíno sotaque paulistano ela me responde “Bem vinda ao Brasil!!!(rsrs)
Porque isso não é problema de cidade grande não. É falta de educação mesmo”. Acho graça na verdade cruamente retratada naquela esquina e diante de um sorriso, seguimos.
No caminho ela me conta que vem há um tempo tentando se acostumar ao cotidiano caótico de uma cidade tão bruta.
Digo-lhe que sofro dos mesmos anseios. E assim que ela reconhece nas minhas palavras uma hospitalidade atípica de SP, ela segue seu caminho me desejando “boa sorte”.
Eu aguardo mais vinte minutos o ônibus que não vem.
Ali tenho a leve certeza de que tanto gás carbônico agregado aos meus pulmões que um dia fará do meu coração um pedaço de concreto.
Ali tenho a triste certeza de que um dia meus sonhos seguirão amontoados no trem de metrô, ou talvez sejam vendidos em um camelô na vinte e cinco de março.
Ali eu me lembro daquela música do Toquinho que eu gostava quando criança e dizia que “o futuro é uma astronave que tentamos pilotar”.
E ali, enquanto os sonhos brincam de ser incertos em meio a tanto cinza, eu não tenho mais certeza de nada.
E São Paulo sorri, em meio ao caos que me hipnotiza, lançando sobre mim a mesma prece que se lança para quem decide sonhar mais do que viver.
Mas fazer o que, se foi nesta cidade, neste cinza todo e neste dia que eu encontrei você, moça de São Paulo!!!!
Um Grande Beijo,
"For you"
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